sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A formação do Grupo de Bagé

por: Cláudio Falcão

[14h:43min] 14/10/2011 - CULTURA

Por volta de 1945, Glauco Rodrigues, com 16 anos e Glênio Bianchetti, com 17, começam a pintar.

Fotos: reprodução JM

Glauco, Glênio, Danúbio e Scliar




Glênio conseguiu tintas a óleo e foi com elas que Glauco pintou seu primeiro quadro: “moinho ao pôr do sol.” Longe dali, o pintor José Moraes ganha um prêmio de viagem no país, e vem para Bagé, terra de uma parenta de sua esposa, a viúva Stechmann, a qual também era tia de Carlos Scliar, que passava as férias na cidade, na chácara da tia. Na casa do escritor Pedro Wayne, grande nome cultural da cidade na época, José Moraes descobre os jovens Glauco e Glênio interessados em arte e, para eles, ministra aulas de pintura a óleo. E neles faz influenciar a arte moderna europeia relativa às primeiras décadas do século XX. Antes da chegada de José Moraes, ainda em 1945, reunia-se com o Grupo o artista gaúcho Carlos Scliar. Em 1948 aglutina-se ao grupo Danúbio Gonçalves, que já havia exposto em Bagé em 1944, com temática social, estudava no Rio de Janeiro e já viajara para a Europa. Como primeira atitude, o grupo monta um ateliê coletivo de artes plásticas, dando ênfase a pintura. Formava-se o grupo de Bagé, cujo ateliê, no início, foi instalado na chácara da viúva Stechmann, mais tarde transferido para a residência de Ernesto Dutra da Costa, após numa casa no começo da rua sete de setembro e por último no quinto andar de um edifício na praça Silveira Martins.

O reagrupamento
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A primeira etapa do Grupo de Bagé vai até 1949 e termina pela dispersão de seus membros. Danúbio volta à Europa, onde se encontra com Scliar. Voltam ao Brasil em 1950 com novos conceitos e planos para as artes gaúchas.
Glauco, que havia partido para Porto Alegre em busca de um aprendizado com maior disciplina na Escola de Belas Artes, volta para Bagé e reencontra Danúbio, retornando da vivência europeia de pós-guerra, do Congresso de Wroclaw. Danúbio alerta para preocupação social, já enfatizada por José Moraes. Retomam o trabalho em conjunto e começam tudo outra vez, organizam uma revista e um novo ateliê, onde Glauco faz incursões pelo abstracionismo, ao mesmo tempo em que, Glênio era expressionista e Danúbio conserva-se fiel aos figurativos. Daí a organizar o Clube de Gravura de Bagé foi um passo.

“Naquela época não havia nada em Bagé em matéria de arte, à exceção de uns raros livros de poetas modernos. Nós copiávamos folhinhas. Até que um dia descobrimos Segall numa revista acadêmica. Mas o clima do ambiente local era bem de pleno século XIX. Apareceu então Carlos Scliar, voltando da guerra e fazendo conferências, explicando o que realmente era arte moderna. Foi uma grande ajuda.”
Glauco Rodrigues

Carentes de informações sobre arte, os bajeenses encontraram no escritor Pedro Wayne seu mentor intelectual.
“Ele era amigo pessoal dos modernistas Oswald e Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. O que sabia de pintura e o que aprendia com esses intelectuais transmitia-nos com gosto. Foi nosso grande orientador”
Glênio Bianchetti

“Tínhamos afinidade ideológica e praticávamos o exercício indispensável ao aprendizado. Quando perguntaram a Cèzanne o que precisava ser um pintor, ele respondeu: primeiro desenhar, segundo desenhar e terceiro desenhar. Percebi que a arte não tem sentido se isolada do povo. Arte é comunhão, é vida.”
Danúbio Gonçalves

“O Prêmio Pablo Picasso foi concedido aos Clubes de Gravura de Porto Alegre e Bagé pela sua coleção de obras em defesa da paz e da cultura. Foi o coroamento do trabalho político que fazíamos e foi, ao mesmo tempo, sem nos darmos conta, o fim de uma linha de trabalho.”
Carlos Scliar

Obras dos bajeenses são restauradas
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Um conjunto de 35 obras do Grupo de Bagé passou por um processo de restauração em Pelotas. O trabalho foi realizado por profissionais da área, especializadas em restauro de obras de arte. A informação é da diretora da Casa de cultura Pedro Wayne, Carmen Barros, que integra a Comissão Gestora de Museus, junto à professora Maria Luíza Pêgas. A restauração é iniciativa do Da Maya-Espaço Cultural, que investiu no trabalho de recuperação das obras. A ação se insere na visão que o Da Maya cultiva de preservar o patrimônio cultural da cidade com atitudes práticas e significativas. “Se essas obras não fossem recuperadas, talvez não as tivéssemos para a mostra que estamos montando”, comenta Carmen. O processo de recuperação levou cerca de quatro meses e já está concluído. Carmen esclarece que algumas gravuras do acervo do Museu da Gravura Brasileira (MGB), já entraram no museu com avarias. “Todo acervo provém de doações e, sendo assim, diversas obras chegam com algum problema.” A medida de restauração, protagonizada pelo Da Maya Espaço Cultural foi mais que providencial, foi oportuna, pois as peças mais avariadas foram recuperadas a tempo. Os cuidados com esse acervo e sua importância para as Artes Plásticas do país motivaram a montagem de uma grande mostra com o material do grupo que se destacou pela autenticidade. A exposição será dividida em três momentos: “Convergências”, com as gravuras mais antigas que indicam a formação do grupo. “Memórias”, que reunirá uma série de fotos e documentos da época retratando a trajetória dos artistas e até mesmo a criação do MGB em Bagé. Por último, “Deslocamentos”, que trará obras de cada um deles já com suas identificações e expressões particulares, sem que se perca o sentido coletivo. A mostra Convergências abrirá no dia 25 de outubro, no Espaço Cultural Da Maya. Uma semana depois serão abertas as outras exposições, Memórias que acontecerá no Museu da Gravura Brasileira e Deslocamentos, no Complexo Cultural Dom Diogo de Souza.




Sem Título, Xilogravura, 1951,Glênio Bianchetti





O moinho ao pôr-do-sol, 1945, Glauco Rodrigues






Carreta e Carroça do Galpão, Linóleogravura, 1956, Carlos Scliar





Sem Título, Xilogravura, 1963, Danúbio Gonçalves

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