sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

UM BEIJO ESPECIAL A ESTA CONTERRÂNEA . É ÓTIMO QUANDO O NOSSO TRABALHO É RECONHECIDO !!!

O Sertão vai virar mar e o Pampa virar cinema

por: Sapiran Brito [23h:20min] 09/12/2011 - Opinião Como no tempo das revoluções, a minha cidade vai ser invadida. “De a galope”, lá vem o cinema reboleando o pala e fazendo “chara cha cha”. Só que, desta feita, a invasão é de caráter cultural. Durante uma semana, Bagé será tomada por artistas de nove estados brasileiros e mais um piquete da República Oriental do Uruguai. Em vez de lanças e adagas, os duelos serão travados com palavras, sons e imagens. Não teremos mortos nem feridos, e sim todos abraçados numa grande celebração, ao contrário das antigas gestas, ninguém será saqueado, não resultarão vencidos e, ao final, todos darão “vivas” à causa que os motiva: o velho cinema de guerra. Vai ter cinema dos grandões, com o melhor da produção do Brasil e do Uruguai, vai ter também o cinema dos pequeninos, aqueles que dão os primeiros passos na sétima arte. Cinema do Irã ao Povo Novo, de quebra a mostra lusófona dos países que falam a nossa língua lá do outro lado do mundo. Estará falando para nós o maior teórico do cinema nacional, também conversará conosco a grande musa do Cinema Novo, novos e consagrados realizadores conviverão no mesmo patamar. Vai ser grande o rebuliço e Bagé vai fervilhar intelectualmente sem elitismos e sem falsa erudição. Exibições nas salas nobres como Museu Dom Diogo, Santa Thereza, Centro do Idoso, Casa de Cultura e Cine 7. Também as praças e logradouros públicos serão contemplados com cinema ao ar livre, o que cai bem nestas noites de verão. Mas não é só cinema, acompanham-no as suas outras artes irmãs: a dança, o teatro e a música. Nos espaços abertos é só chegar, nos recintos fechados é só entrar, nada será cobrado, nem ingresso, nem contribuição, nem quilo de qualquer coisa. Quem paga é o estado, no caso, a Prefeitura de Bagé e o Ministério da Cultura, ou melhor, retribui, uma vez que o contribuinte, através de seus impostos já pagou antecipadamente o que agora, em parte, lhe é devolvido. Festa democrática e plural, o III Festival de Cinema da Fronteira se inicia amanhã e só quer do povo de Bagé a presença, seja para aplaudir, para discutir ou até mesmo para criticar negativamente. Que venham todos, especialmente aqueles acomodados que há muito tempo não veem cinema porque se mantêm presos à telinha da TV. Só não teremos a pipoca, cada um que traga a sua. Também não teremos lanterninha, quem chegar atrasado que procure o seu lugar no escuro. A programação será extensa. São mais de120 filmes de curta, longa e média metragens, de todos os gêneros, para todos os gostos. Tem até filme feito aqui por nossas crianças. Vocês duvidam que criança possa fazer filme? Pois o festival vai provar que qualquer um pode fazer o seu filme. Sob o signo de São Sebastião decapitado, retratado pelo pincel de Glauco, que ilustra o cartaz e os demais materiais gráficos, o cinema de Bagé está à procura de sua cabeça para juntá-la ao corpo. Nós, que fomos a segunda cidade do Estado a conhecer o cinematógrafo, estamos, nos dias de hoje, retomando este fio histórico que nos liga ao cinema. E se depender, especialmente, da vontade da meninada, um belo dia seremos reconhecidos como polo de produção cinematográfica, porque aqui temos a melhor luz, a mais bela paisagem, tipos humanos e 300 anos de história para contar. Só nos faltam os meios materiais e este há de ser o objetivo a ser alcançado. Chegando lá, prevalecerá o talento e a inteligência da nossa gente, que saberá transformar a sua criatividade em atividade lucrativa. Enquanto isso, viajantes do sonho, continuaremos brigando porque é uma peleia que vale a pena porque, no fundo, bem lá no fundo, sabemos que o cinema tem as melhores condições para projetar além fronteiras a nossa bicentenária Bagé. É revestido de simbolismo o fato de, nesta data, estarmos dando o primeiro passo. Daqui a um século, por ocasião do tricentenário, o povo do cinema no futuro tempo dirá: ”Foi em 2011 que tudo começou”.