sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Do Modernismo em Bagé para o mundo






por: Cláudio Falcão


O Grupo de Bagé foi um grupo de artistas atuantes em Bagé e Porto Alegre, que forjaram a identidade artística do Rio Grande do Sul, dentro de um Brasil que projetava a arte do centro do país como identificadora da arte nacional.
Eles foram importantes para a atualização da arte sulina entre os anos 40 e 50. Sua atuação é reconhecida também como uma contribuição significativa para a democratização da arte brasileira. O grupo era formado inicialmente por Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Jacy Maraschin e Ernesto Wayne que, através do intelectual Pedro Wayne, entrou em contato com Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves e José Morais. Ficaram mais conhecidos como membros do grupo, entretanto, apenas Scliar, Bianchetti, Gonçalves e Rodrigues.
O nome nasceu após uma exposição realizada em Porto Alegre, em 1948, na galeria do Correio do Povo, quando eles foram chamados de "os novos de Bagé" pela imprensa local. Defendiam a popularização da arte através da abordagem de temas sociais e regionais, num estilo figurativo realista com traços expressionistas. O grupo foi uma influência direta para a formação do Clube de Gravura de Bagé e do Clube de Gravura de Porto Alegre, os quais renovaram as artes gráficas brasileiras nos anos 50 através de uma proposta semelhante.

Obras do Grupo de Bagé serão temas de exposição
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Um conjunto de 35 obras do Grupo de Bagé passou por um processo de restauração em Pelotas. O trabalho foi realizado por profissionais da área, especializados em restauro de obras de arte. A informação é da diretora da Casa de Cultura Pedro Wayne, Cármen Barros, que integra a Comissão Gestora de Museus, junto à professora Maria Luíza Pêgas. A restauração veio em boa hora e pela iniciativa do Da Maya-Espaço Cultural, que investiu no trabalho de recuperação das obras. A ação se insere na visão que o Da Maya cultiva de preservar o patrimônio cultural da cidade com atitudes práticas e significativas. “Se essas obras não fossem recuperadas, talvez não as tivéssemos para a mostra que estamos montando”, comenta Cármen. O processo de recuperação levou cerca de quatro meses e já está concluído. Cármen esclarece que algumas gravuras do acervo do Museu da Gravura Brasileira (MGB) já entraram no museu com avarias. “Todo acervo provém de doações e, sendo assim, diversas obras chegam com algum problema.” A medida de restauração, protagonizada pelo Da Maya Espaço Cultural foi mais que providencial, foi oportuna, pois as peças mais avariadas foram recuperadas a tempo. Os cuidados com esse acervo e sua importância para as artes plásticas do país motivaram a montagem de uma grande mostra com o material do grupo que se destacou pela autenticidade. A exposição será dividida em três momentos: “Convergências”, com as gravuras mais antigas que indicam a formação do grupo. “Memórias”, que reunirá uma série de fotos, vídeos e documentos da época retratando a trajetória dos artistas e, até mesmo a criação do MGB em Bagé. Por último, “Deslocamentos”, que trará obras de cada um deles já com suas identificações e expressões particulares, sem que se perca o sentido coletivo. A mostra “Convergências” abrirá no dia 25 de outubro, no Espaço Cultural Da Maya. Uma semana depois serão abertas as outras exposições. “Memórias” acontecerá no Museu da Gravura Brasileira, como uma videoinstalação e a mostra “Deslocamentos” abrirá no complexo cultural do Museu Dom Diogo de Souza.

Ação educativa
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O Da Maya – Espaço Cultural se consolida como entidade responsável pelas ações que desenvolve junto à comunidade. Quando se menciona “responsável”, o termo abrange, fundamentalmente, o grau de responsabilidade social de suas iniciativas. De acordo com o curador educativo da entidade, Ígor Simões, o Da Maya preza pelas ações educativas como definidoras de todas as ações desenvolvidas por aquele espaço cultural. “Nós criamos diversas estratégias que possibilitem o acesso às artes”, explica Simões. “Uma delas é o programa de formação de professores, feito em parceira com a Secretaria Municipal de Educação (Smed). O curador informa que o Da Maya investe, também, na formação e capacitação de mediadores que irão atuar nas galerias fazendo uma aproximação do público com as obras expostas. “Esses profissionais estimulam um olhar mais atento sobre a obra apresentada”, esclarece ele. São oferecidos, ainda, cursos voltados à comunidade e cada exposição realizada no espaço recebe um projeto específico. Nesse cenário é que se integram os alunos da rede pública. Conforme Simões, são mais de 1,2 mil alunos de cerca de 30 escolas públicas que são beneficiados com as ações educativas do Da Maya - Espaço Cultural. No caso específico da mostra do Grupo de Bagé o curador destaca dois focos principais. O primeiro deles é voltado para a questão direta da preservação. Sobre as razões de determinadas obras serem restauradas e/ou preservadas. “Queremos que o público saiba o que nos dizem esses objetos, suas interligações com a história da cidade. A restauração que foi possibilitada é considerada um presente do Da Maya à memória de Bagé. O segundo foco se dirige à produção do Grupo de Bagé e à definição da gravura como linguagem artística. Na última etapa de cada visitação de alunos eles poderão vivenciar esses conceitos com oficinas onde terão acesso a essas técnicas. Para os alunos, uma chance rara de dispor desse ensinamento sem qualquer gasto. O espaço fornece, inclusive, transporte para os estudantes, através de uma parceria com a empresa Anversa. Simões acrescenta que todos os professores envolvidos, além da formação oferecida, recebem, previamente, um CD, que é o material instrucional. Ali são feitas sugestões de trabalhos em sala de aula, explicações sobre o que vai ser mostrado: “de modo que a ação educativa comece bem antes de os alunos chegarem ao Espaço Cultural Da Maya”, esclarece Simões.

Gravura
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É a técnica em que um artista utiliza uma matriz para construir uma imagem a partir de incisões, corrosões e talhos, realizados com instrumentos e materiais especiais para depois transferi-la para o papel. De um modo geral, chama-se gravura o múltiplo dessa obra, reproduzida a partir da matriz. Essa reprodução é numerada e assinada uma a uma, compondo, dessa forma, uma edição restrita.
Em função da técnica e do material empregados, a gravura recebe uma classificação específica:
Xilogravura – matriz madeira. Os cortes proporcionam os brancos A superfície é entintada com um rolo e, com isso, essas partes intocadas proporcionam a cor da gravura.
Litografia – matriz pedra calcárea. Aqui não ocorre a incisão, o desenho é feito com lápis, ou com um bastão gorduroso, na pedra ou chapa.
Linoleogravura, linogravura - matriz linóleo. Material sintético usado para se fazer pisos. Quando o linóleo é cortado, são os cortes que produzem o branco na impressão sobre o papel.
Gravura em metal ou calcografia - matriz (em geral) cobre, latão ou zinco. A estampa aparece como resultado da tinta depositada no interior dos sulcos do metal, enquanto a superfície se mantém branca.
Serigrafia – matriz tela de seda ou nylon. Técnica de impressão vazada. Em um bastidor, com seda ou nylon esticados, são isoladas as partes que não vão ser impressas.

Tiragem
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Uma gravura é considerada original quando é assinada e numerada pelo artista dentro dos conceitos estabelecidos internacionalmente, segundo os quais o artista trabalha a matriz de metal, pedra, madeira ou seda com o propósito de reproduzir a imagem criada em tiragem de exemplares idênticos, cuja impressão é feita diretamente da matriz, pelo artista ou por impressor especializado. Após aprovar uma gravura o artista tira várias provas que são chamadas P.A. ( prova do artista ). Ao chegar ao resultado desejado é feita uma cópia " bonne à tirer " (boa para imprimir B.P.I. ) O artista então, assina a lápis, coloca a data, o título da obra e numera a série . Finda a edição, a matriz deve ser destruída ou inutilizada. Ao exemplar de tiragem obedecendo estes requisitos dá-se o nome de gravura original. Cada imagem impressa é um exemplar original de gravura e o conjunto desses exemplares é denominado tiragem ou edição. Em uma tiragem de 100 gravuras, as obras são numeradas em frações : 1/100, 2/100 etc.

Histórico
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A formação
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Por volta de 1945, Glauco, com 16 anos, e Glênio, com 17 anos, começam a pintar. Glênio conseguiu tintas a óleo e foi com elas que Glauco pintou seu primeiro quadro: “Moinho ao pôr-do-sol.” Longe dali, o pintor José Moraes ganha um prêmio de viagem no país, e vem para Bagé, terra de uma parenta de sua esposa, a viúva Stechmann, a qual também era tia de Carlos Scliar, que passava as férias na cidade, na chácara da tia. Na casa do escritor Pedro Wayne, grande nome cultural da cidade na época, José Moraes descobre os jovens Glauco e Glênio interessados em arte e para eles ministra aulas de pintura a óleo. E neles faz influenciar a arte moderna europeia relativa às primeiras décadas do século XX. Antes da chegada de José Moraes, ainda em 1945, reunia-se com o grupo o artista gaúcho Carlos Scliar. Em 1948 aglutina-se ao grupo Danúbio Gonçalves, que já havia exposto em Bagé, em 1944, com temática social, estudava no Rio de Janeiro e já viajara para a Europa. Como primeira atitude, o grupo monta um ateliê coletivo de artes plásticas, dando ênfase à pintura. Formava-se o grupo de Bagé, cujo ateliê, no início, foi instalado na chácara da viúva Stechmann, mais tarde transferido para a residência de Ernesto Dutra da Costa, após, numa casa no começo da rua Sete de Setembro e, por último, no quinto andar de um edifício na praça Silveira Martins.

O reagrupamento
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A primeira etapa do Grupo de Bagé vai até 1949 e termina pela dispersão de seus membros. Danúbio volta à Europa, onde se encontra com Scliar. Voltam ao Brasil em 1950 com novos conceitos e planos para as artes gaúchas.
Glauco, que havia partido para Porto Alegre em busca de um aprendizado com maior disciplina na Escola de Belas Artes, volta para Bagé e reencontra Danúbio, retornando da vivência europeia de pós-guerra, do Congresso de Wroclaw. Danúbio alerta para a preocupação social, já enfatizada por José Moraes. Retomam o trabalho em conjunto e começam tudo outra vez. Organizam uma revista e um novo ateliê, onde Glauco faz incursões pelo abstracionismo, ao mesmo tempo em que Glênio era expressionista e Danúbio conserva-se fiel aos figurativos. Daí a organizar o Clube de Gravura de Bagé foi um passo.
Carentes de informações sobre arte, os bajeenses encontraram no escritor Pedro Wayne seu mentor intelectual.

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