quinta-feira, 10 de março de 2011

Recordando antigos carnavais











últimas notícias por: José Higino Gonçalves
[22h:36min] 28/02/2011 - ESPECIAL
Recordando antigos carnavais
Os encontros dos velhos amigos, no centro da cidade, são muito comuns, se repetem seguidamente, e, nas conversas, as reminescências surgem ao natural, lembrando épocas distantes e abordando os assuntos mais diversos.
Reprodução JM
FOTO CLÁSSICA: carnavalescos no Coreto Municipal
De repente, o tema é carnaval, e eles falam, descontraidamente, sobre aquilo que presenciaram e de que foram protagonistas, em tempos já distantes.O aposentado Luís Barbosa da Silva, o “Casca”, trabalhou muito tempo como pintor. Aos 77 anos, ele recorda que, na década de 1940, já era carnavalesco, integrando o bloco Bambas da Cidade, com sede nos altos da Santa Casa de Caridade. “A folia começava no Natal e, a cada semana, a gente saía às ruas, preparando-se para o carnaval. Era algo empolgante, havia uma motivação incrível”, diz ele, que, depois, passou para o bloco Garotos da Batucada, que, sob o comando de Evilásio Pereira, marcou época na cidade. “Os desfiles daqueles tempos eram marcados por muita organização, o público lotava o centro da cidade e muitos saíam atrás dos blocos. A gente ia da Praça de Esportes à Catedral e, terminado o desfile, voltávamos pela Osório ou Floriano para baixar novamente a Sete”. Silva chama a atenção para o brilho e o luxo das fantasias de antigamente, nos desfiles de rua, tudo por conta de cada componente.Manoel Gomes, o Caju, entra na roda de amigos. Ele também viveu intensamente a época dos Garotos da Batucada, Reis da Mocidade, Gato na Tuba, entre vários outros, e também participou ativamente de muitos carnavais. Recorda que os desfiles começavam às oito horas da noite, com um bloco atrás do outro. Não havia samba-enredo. Os carnavalescos compravam o almanaque Rouxinol, que trazia as letras das marchinhas e sambas daquele ano, tinham que decorá-las, e, para completar, a música era transmitida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Tudo tinha que ser devidamente assimilado para que nada falhasse durante o desfile.Outro detalhe especial, lembrado na conversa dos antigos carnavalescos é de que os Garotos da Batucada foram pioneiros em sair às ruas, durante o carnaval, no período da manhã. Antigamente, era muito comum ver as entidades visitando as residências de amigos, onde os seus componentes eram devidamente recepcionados, com lanches e bebidas. Outro pioneirismo do bloco: foi o primeiro a apresentar estandarte na avenida Sete de Setembro, um presente de dona Estela.Joaquim Carlos Rodrigues dos Santos, o Menel, mecânico aposentado, também tem as suas lembranças dos velhos carnavais. “Comecei aos 13 anos, integrando Os Reis da Mocidade, que era comandado por Adão e Geraldo e que tinha sede na rua Ernesto Médici, realizando seus ensaios também na antiga rua 14 de Julho (hoje Antenor Gonçalves Pereira), na quadra 800”. O título de campeão dos blocos era disputado mais intensamente por Garotos da Batucada, Reis da Mocidade, Gato na Tuba (do “seu” Gazi lves), Príncipes do Luar (do Balão Branco). Cada bloco tinha, em média, 60 componentes, entre homens e mulheres. Rodrigues diz que, nos disputadíssimos concursos, muitas vezes Reis da Mocidade predominavam na fantasia, enquanto Os Garotos tinham a melhor batucada. “Era algo espetacular, aqueles tempos não voltam mais, infelizmente”, diz Joaquim Carlos, que, com o fim do seu bloco, passou para a Escola de Samba Copacabana, participando da fundação da entidade, no “bar da Dona Rosa”, que se localizava em frente ao antigo Bar Cimirro, no cruzamento da avenida Santa Tecla com a rua São José, no bairro Getúlio Vargas. Rodrigues relembra alguns diretores da entidade, como o Nei bate-bate, que era presidente; Adão Gonçalves, vice, e Artur Roberto Brasil Alves, vice.Quando terminava o desfile dos blocos, com a avenida Sete de Setembro cheia de confete e serpentina, os integrantes dos blocos voltavam para as suas sedes e participavam de bailes animadíssimos, que se prolongavam até o sol raiar.Manoel Gomes também participou de muitos bailes. Num deles, quando a sede de Os Zíngaros era na rua Barão do Triunfo, quadra 900, entre Monsenhor Costábile Hipólito e Juvêncio Lemos, em pleno baile, muita gente pulava ao som de “Ximango, ximano, ninguém sabe lá o que é...” e o impacto foi tanto que o assoalho afundou. Depois, a sede foi transferida para a avenida João Telles, em frente à Praça da Estação, e, mais tarde, Os Zíngaros tinha sede própria, na rua Dr. Veríssimo, onde, aliás, a entidade está instalada até os dias atuais.As recordações de Valter Martins, 77 anos, o “Balão Preto”, não escondem a tristeza foi de que quando ele era presidente interino dos Garotos da Batucada, o bloco chegou ao fim. “O que aconteceu é que muitos componentes foram para o Barão”, diz ele, dizendo que, naqueles tempos, eram muito comuns os livros-de-ouro, que eram passados pela cidade, pedindo colaboração financeira para que as entidades pudessem se estruturar para os desfiles. José Silva Farias, o mestre Nonoca, 61 anos, situa-se numa faixa intermediária entre o carnaval do passado e do atual. Carnavalesco desde os 14 anos, desde jovem começou a desfilar na Império Serrano e Mariquitas, em Rio Grande. Em Bagé, guarda gratas recordações de entidades como Príncipes do Luar, Garotos da Batucada e Reis da Mocidade. “Claro que existe diferença, são duas épocas absolutamente distintas. Antigamente, quando os desfiles terminavam, os blocos de mascarados invadiam a avenida, era uma verdadeira explosão popular. Hoje, muitos querem imitar o centro do País, se precisa de dinheiro, a espontaneidade não é a mesma”, enfatiza.

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