A indumentária do gaúcho é dividida em três grupos: o Traje atual, usado no dia a dia; o Traje de época, que é considerado histórico, e o Traje folclórico que é o traje típico de uma região. A mulher gaúcha nunca teve um traje folclórico, mas sim algumas peças herdadas de outras culturas, como os açorianos, portugueses, italianos e alemães.
Os quatro trajes fundamentais: 1 - Chiripá primitivo; 2 - Braga; 3 - Chiripá farroupilha; 4 - Bombacha.
Traje Indígena - 1620 a 1730 Os Missioneiros (Tapes, Gês-guaranizados) -
constituíam a matéria-prima trabalhada pelos padres jesuítas dos sete povos e se vestiam, conforme severa moral jesuítica e . usavam, ainda, uma peça de indumentária não européia - "el poncho" - o pala bichará. A mulher missioneira usava o "tipoy", que era um longo vestido formado por dois panos costurados entre si, deixando sem costurar apenas duas aberturas para os braços e uma para o pescoço. Na cintura, usavam uma espécie de cordão, chamado "chumbe". O "tipoy" era feito de algodão esbranquiçado, mas em seguida se tornava avermelhado com o pó das Missões. Em ocasiões festivas, a índia missioneira gostava de usar um alvo "tipoy" de linho sobre o de uso diário. Apenas nas vestes religiosas, sobretudo nas procissões, as índias usavam mantos de cores dramáticas, como o roxo e o negro. Os Índios cavaleiros (Maias: Charruas, Minuanos, Yarós, etc), eram assim chamados porque prontamente se abonaram do cavalo trazido pelo branco, desenvolvendo uma surpreendente técnica de amestramento e equitação. Usavam duas peças de indumentária absolutamente originais: o "chiripá" e o "cayapi". O chiripá era uma espécie de saia, constituída por um retângulo de pano enrolado na cintura, até os joelhos. O cayapi dos minuanos era um couro de boi, inteiro e bem sovado (que se usava às costas) com o pêlo para dentro e carnal para fora, pintado de listras verticais e horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama, estirado no chão. Os charruas o chamavam de "quillapi" e "toropi". A mulher, entre os índios cavaleiros, usava apenas o chiripá. No rosto, pintura ritual de passagem, assinalando a entrada na puberdade. No pescoço, colares de contas ou dentes de feras.
Traje Gaúcho - 1730 a 1820Patrão das Vacarias e Estancieira Gaúcha
O primeiro caudilho rio-grandense tinha mais dinheiro e se vestia melhor. Foi o primeiro estancieiro. Trajava-se basicamente à européia, com a braga e as ceroulas de crivo, a bota de garrão de potro, o cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos, o chapéu de pança de burro, etc. A mulher desse rico estancieiro usava botinhas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, botinhas fechadas, mantilha, chale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos enrolados e o infaltável leque.Peão das Vacarias e China das Vacarias O traje do peão das vacarias destinava-se a proteger o usuário e a não atrapalhar a sua atividade - caçar o gado e cavalgar. Este gaúcho só usava o chiripá primitivo (pano enrolado como saia, até os joelhos, meio aberto na frente, para facilitar a equitação e mesmo o caminhar do homem) e um pala enfiado na cabeça. O chiripá assumia uma cor indistinta de múgria - cor de esfregão. À cintura, faixa larga, negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca, adaptado para levar moedas, palhas e fumo e, mais tarde, cédulas, relógio e até pistola. Ainda à cintura, as armas desse homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou a adaga e, mais raramente, o facão. À mão, a lança - de peleia ou de trabalho. Camisa de algodão branco ou riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos, com gola imensa e mangas largas. Pala, comumente, o de lã - chamado "bichará" - em cores naturais, e mais raramente o de algodão e o de seda que aos poucos vão aparecendo. Logo, também surge o poncho redondo, de cor azul e forrado de baeta vermelha. Pala: tem origem indígena. Pode ser de lã ou algodão, quando protege contra o frio, ou de seda, quando protege contra o calor. É sempre retangular com franjas nos quatro lados. A gola do pala é um simples talho, por onde o homem enfia o pescoço. Poncho: Tem origem inteiramente gauchesca. É feito de lã grossa, quase sempre azul escuro, forrado de baeta vermelha. O poncho tem a forma circular ou ovulada. Só protege contra o frio e a chuva. A gola é alta, abotoada e há um peitilho na frente do poncho. Botas: As botas mais comuns eram as de garrão-de-potro retiradas de vacas, burros e éguas. Eram lonqueadas ou perdiam o pêlo com o uso. Normalmente, eram feitas com o couro das pernas traseiras do animal que dão botas maiores. As que eram tiradas das patas dianteiras, muitas vezes eram cortadas na ponta e no calcanhar, ficando o usuário com os dedos do pé e o calcanhar de fora. Acima da barriga da perna, era ajustada por meio de tranças ou tentos. Esporas: As esporas mais comuns nessa época eram as nazarenas (européias)- nome devido aos seus espinhos pontudos, que lembram os cravos que martirizaram Nosso Senhor-e as chilenas (americanas)- nome à semelhança com as esporas do "huaso", do Chile. Luxo: O peão das vacarias só usava ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. Ademais, andava de pernas nuas como os índios. À cabeça, usava a fita dos índios, prendendo os cabelos - que os platinos chamam "vincha" - e também o lenço, como touca, atado à nuca. Chapéu: quando usava, era de palha (mais comum), e de feltro, (mais raro), e talvez o de couro cru, chamado de "pança-de-burro", feito com um retalho circular da barriga do muar, moldado na cabeça de um palanque. O chapéu era preso com barbicacho sob o queixo ou nariz. Esse barbicacho era normalmente trançado em delicados tentos de couro cru, tirados de lonca, ou então, eram simples cordões de seda, torcidas, terminando em borlas que caía para o lado direito. Mais raramente era feito de sola e fivela. Tirador: Ainda nesta época, aparece o "cingidor", que é o nosso tirador. Mulher: A mulher vestia-se com uma saia comprida, rodada, de cor escura e blusa clara ou desbotada com o tempo. Pés e pernas descobertas, na maioria das vezes. Por baixo, apenas usava bombachinhas, que eram as calças femininas da época.
Traje Gaúcho - 1820 - 1865 Chiripá Farroupilha e Saia e Casaquinho
O chiripá substituiu o anterior, que não é adequado à equitação, mas para o homem que anda a pé. Em forma de grande fralda, passada por entre as pernas e se adapta bem ao ato de cavalgar. O Chiripá Farroupilha é inteiramente gaúcho. Esse é um traje muito funcional, nem muito curto, nem muito comprido, tendo o joelho por limite, ao cobri-lo. As esporas deste período são as chilenas, as nazarenas e os novos tipos inventados pelos ferreiros da campanha. As botas são, ainda, a bota forte, comum, a bota russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio pé. As ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por fora, mostram nas extremidades, crivos, rendas e franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou duas fivelas. Camisa sem botões, de gola, e mangas largas. Usavam jaleco, de lã ou mesmo veludo, e às vezes, a jaqueta, com gola e manga de casaco, terminando na cintura, fechado à frente por grandes botões ou moedas. No pescoço, lenço de seda, nas cores mais populares, vermelho ou branco. Em caso de luto, usava-se o lenço preto. Com luto aliviado, preto com "petit-pois", carijó ou xadrez de preto e branco. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. Na cabeça usavam a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata e, se for o caso, chapéu de feltro, com aba estreita e copa alta ou chapéu de palha, sempre preso com barbicacho. A mulher usava saia e casaquinho com discretas rendas e enfeites. Tinham as pernas cobertas com meias, salvo na intimidade do lar. Usavam cabelo solto ou trançado, para as solteiras e em coque para as senhoras. Os sapatos eram fechados e discretos. Como jóias apenas um camafeu ou broche. Ao pescoço vinha muitas vezes o fichú (triângulo de seda ou crochê, com as pontas fechados por um broche). Este foi o traje usado pelas ricas e pobres desta época.
Traje gaúcho - 1865 até nossos diasBombacha e Vestido de Prenda
A bombacha surgiu com os turcos e veio para o Brasil usada pelos pobres na Guerra do Paraguai. Até o começo do século, usar bombachas em um baile, seria um desrespeito. O gaúcho viajava a cavalo, trajando bombachas e trazia as calças "cola fina", dobradas em baixo dos pelegos, para frisar. As bombachas são largas na Fronteira, estreitas na Serra e médias no Planalto, abotoadas no tornozelo, e quase sempre com favos de mel. A correta bombacha é a de cós largo, sem alças para a cinta e com dois bolsos grandes nas laterais, de cores claras para ocasiões festivas, sóbrias e escuras para viagens ou trabalho. À cintura o fronteirista usa faixa; o serrano e planaltense dispensam a mesma e a guaiaca da Fronteira é diferente da serrana, por esta ser geralmente peluda e com coldre inteiriço. A camisa é de um pano só, no máximo de pano riscado. Em ambiente de maior respeito usa-se o colete, a blusa campeira ou o casaco. O lenço do pescoço é atado por um nó de oito maneiras diferentes e as cores branco e vermelho são as mais tradicionais. Usa-se mais freqüentemente o chapéu de copa baixa e abas largas, podendo variar com o gosto individual do usuário, evitando sempre enfeites indiscretos no barbicacho. Por convenção social o peão não usa chapéu em locais cobertos, como por exemplo, no interior de um galpão. As esporas mais utilizadas são as "chilenas", destacando-se ainda as "nazarenas". Botas, de sapataria preferencialmente pretas ou marrons. Para proteger-se da chuva e do frio usa-se o poncho ou a capa campeira e do calor o poncho-pala. Cita-se ainda o bichará como proteção contra o frio do inverno. O preto é somente usado em sinal de luto. O tirador deve ser simples, sem enfeites, curtos e com flecos compridos na Serra, de pontas arredondadas no Planalto, comprido com ou sem flecos na Campanha e de bordas retas com flecos de meio palmo na Fronteira. É vedado o uso de bombacha com túnica tipo militar, bem como chiripás por prendas por ser um traje masculino. O vestido de prenda é uma criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG a partir de 1948, criando assim um traje que representasse a mulher de tal forma a combinar com o traje atual dos peões. Existe também o traje alternativo feminino que é utilizado para cavalgadas, festas campeiras, entre outros usa-se então o vestido de prenda sem saia de armação e com capa, a bombacha feminina utilizada de modelo diferenciado do masculino, sem favos, sem bragueta e abotoada dos lados, com blusa ou fraque, modelos esses aprovados e atualizados em Congressos Tradicionalistas realizados pelo MTG.O traje atual da prenda adulta consiste em saia e blusa ou bata; saia e casaquinho e o vestido. O modelo é livre, evitando decotes abusados, ou seja, mostrar ombros e seios; as mangas não devem ser usadas com “boca de sino” ou “morcego”, seu tamanho varia entre longas, três quartos ou até o cotovelo. A saia sempre deve ser com a barra no peito do pé; em panos, godê ou meio-godê. No caso da blusa ou bata pode ou não ter gola. Na combinação saia e casaquinho, não pode haver bordados na saia, o casaquinho deve ter gola pequena e abotoado na frente, e pode ter bordados discretos O vestido pode ser, inteiro e cortado na cintura, de cadeirão, ou em corte princesa.É facultativo o uso de lenço com pontas cruzadas sobre o peito, o uso do fichu de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, ou ainda do chalé. A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas é livre.A saia de armação, peça utilizada embaixo do traje feminino deve ser leve e discreta, na cor branca, se tiver babados devem estar no rodado da saia, hoje em dia evita-se o abuso na armação, e o comprimento deve ser inferior ao do vestido.A bombachinha, traje intimo feminino, deve ser de cor branca, com tecido leve e enfeitado com rendas discretas abaixo do joelho, cujo comprimento é também menor que o vestido, geralmente logo abaixo dos joelhos. Meias longas brancas ou coloridas, não transparentes; sapato com salto 5 (cinco), ou meio salto, que abotoe do lado de fora, por uma tira que passa sobre o peito do pé.Cabelo solto ou em trança (única ou dupla), com flores ou fitas. Vedado o uso de colares; Permitido o uso discreto de maquiagem facial, sem batons roxos, sombras coloridas, delineadores em demasia. Vedado o uso de relógios de pulso e de luvas; É livre a criação dos vestidos, quanto a cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima enumerados.