Vivian Virissimo
Nos 200 anos de emancipação política de Bagé, na região da Campanha do Rio Grande do Sul, uma das principais preocupações dos moradores diz respeito justamente à conservação da história da cidade. Após a destruição de alguns prédios históricos, um movimento se articula para preservar de forma definitiva o patrimônio histórico urbano e rural de Bagé.
Destruição de casarões históricos motivou moradores a organizarem movimento pela preservação do patrimônio em Bagé | Foto: Heloisa Beckman/Divulgação
O município de 116 mil habitantes possui aproximadamente 800 prédios considerados de importância histórica, cultural e social, mas apenas vinte são tombados. Depois da destruição de casarões históricos da cidade, a entidade Defesa Civil do Patrimônio Histórico (Defender) decidiu liderar um abaixo-assinado na internet e mobilizar apoiadores nas redes sociais.
As movimentações começaram com ações no Ministério Público que obtiveram sucesso para frear destruição dos antigos casarões. No abaixo-assinado, os organizadores pedem que os órgãos governamentais da área reconheçam e protejam “de forma definitiva” o patrimônio histórico de Bagé, que completa 200 anos neste domingo (17). O documento será encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) e ao Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) assim que colher 1000 assinaturas.
Inaugurado em 1884, prédio da Estação Ferroviária virou centro administrativo de Bagé em 1980 | Foto: Prefeitura de Bagé/Divulgação
“Queremos uma solução política definitiva para preservação do patrimônio histórico de Bagé. Se não conseguirmos o tombamento por meio do órgãos competentes, este legado extraordinário será destruído nos próximos anos, da mesma forma como vimos acontecer, nos últimos meses, a destruição de vários casarões antigos. E foi justamente a repetição destas cenas que acabou gerando uma reação nos bageenses”, afirma o representante da Defender na cidade, José Francisco Botelho.
O movimento começou a se articular após a interiorização do governo estadual no início de julho, com a presença do governador Tarso Genro e do secretário da Cultura Luiz Antônio de Assis Brasil. Uma reunião na Câmara de Vereadores com a participação de diversos segmentos da sociedade de Bagé marcou o início da mobilização da Defender.
Mesmo com o número reduzido de tombamentos e a ameaça de novas destruições, Botelho considera que há aspectos a serem comemorados. “Nós temos que comemorar nestes 200 anos de Bagé que o patrimônio se manteve. Não está perfeitamente conservado, mas pode ser revitalizado, ao contrário de outras cidades que já o destruíram”, salienta. “No Brasil, infelizmente, desenvolvimento ainda é sinônimo de destruição dos centros históricos. Em Bagé, a preservação se deu por acaso, não pelo tombamento por parte dos órgãos competentes”, afirma.
Mesmo tombado, alvará para destruição da Torre do Castelinho foi concedido, mas MP barrou | Foto: Telmo Padilha/Divulgação
Para Botelho, Bagé ainda consegue conservar seu patrimônio histórico, o que é motivo de orgulho para seus moradores. “Andando por várias quadras de Bagé se tem a sensação de uma cultura autêntica. Os bageenses se acostumaram com a horizontalidade da cidade. Quando os patrimônios foram destruídos, o imaginário do povo de Bagé foi atacado a marretadas”, diz Botelho, acrescentando que o tombamento poderá servir como publicidade para o turismo da região, a exemplo de Jaguarão, na fronteira com o Uruguai.
Para o presidente da Defender, Telmo Padilha Cesar, os principais inimigos da preservação do patrimônio histórico são o desconhecimento da lei, seguidos pelo interesse econômico, além do falso sentimento de progresso.
“Nos patrimônios históricos se têm os indícios do desenvolvimento econômico, cultural e social das sociedades. Além disso, progresso e desenvolvimento não significam apenas a verticalização ou aglomeração de pessoas, pelo contrário, desenvolvimento também é a preservação das edificações históricas”, destaca.
http://sul21.com.br/jornal/2011/07/nos-200-anos-de-bage-luta-e-pela-preservacao-do-patrimonio/
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